Como podemos ser mais inteligentes?

Entre os principais desafios das grandes cidades do mundo está a mobilidade urbana. Seja pela dificuldade cada vez maior para se deslocar, a quantidade crescente de automóveis ou a escassez de locais para estacionar os veículos, ver-se livre desses problemas exige, no curtíssimo prazo, mudar de endereço e escolher uma região menos adensada, infelizmente. Mas isso não resolve, porque ao optar pela mudança e não trabalhar na solução, vamos transformar todos os nossos municípios em aglomerados caóticos de imóveis, veículos e gente. Existe alguma forma de mudar isso, que seja prática, barata e esteja ao nosso alcance?

Sim, e ela passa pela tecnologia. Imagine que hoje nós temos a possibilidade de, especificamente na área do trânsito, sair de casa já tendo reservada uma vaga de estacionamento no centro da cidade ou na região aonde você vai. Ou, para citar um exemplo pós-automóvel, você consiga reservar uma bicicleta por meio do seu smartphone, usá-la para se deslocar no dia a dia e depois devolvê-la, tudo controlado remota e facilmente, com o apoio da tecnologia. Estes cenários podem parecer muito distantes, principalmente se você estiver lendo esse artigo depois de ficar horas em um congestionamento, se frustrar ao tentar usar algum serviço público ou lidar com uma estrutura excessivamente analógica e burocrática numa era digital. Mas eles já funcionam em alguns países e cidades inteligentes, e popularizá-los só depende da nossa vontade de compreender as inovações como um fator indispensável à evolução da civilização.

Para ser mais claro, cito o exemplo recente que vimos em funcionamento no no Rio de Janeiro. Por conta da realização dos Jogos Olímpicos, a cidade e a região portuária — outrora degradada e abandonada pelo poder público — receberam investimentos de uma parceria público-privada e disponibilizaram à população pelo menos 15 novos serviços oferecidos de forma digital, inovadora e, porque não dizer, inspiradora. Foi um case mundial de bairro digitalizado, dadas as facilidades implementadas e a transformação que ocorreu nesses espaços a partir de uma nova concepção da cidade. Quando estive lá fiquei impressionado com algumas novidades simples, mas com um impacto positivo muito grande para os cidadãos. Por exemplo: quiosques formados por uma tela grande, câmera, microfone e tablet permitiam aos turistas conversar online e em tempo real com guias locais, que davam orientações sobre caminhos, atrações e até poderiam ajudar em casos relacionados à documentação do visitante; sensores em bueiros informavam à central de monitoramento se algum deles estava transbordando, que poderia deslocar equipes e consertá-lo para evitar alagamentos; painéis digitais ofereciam um mapa atualizado instantaneamente com as rotas do transporte coletivo, informando o tempo exato até a chegada do próximo veículo e quanto duraria a viagem.

Não entendo como a mesma sociedade que conseguiu transformar hábitos culturais, de consumo e convívio integrando continentes, pessoas, negócios e soluções por meio de conexões digitais submarinas e via satélite, ainda se subjugue a problemas como a falta de integração entre órgãos públicos, que leva um empreendedor a ter que aguardar 107 dias para abrir uma empresa no Brasil (dado do Banco Mundial). Ou como perdemos horas de convívio com nossos familiares e amigos em congestionamentos para percorrer, em alguns casos, menos de uma dúzia de quilômetros, porque o planejamento urbano não evoluiu junto com as cidades. As facilidades que ainda estão disponíveis no projeto piloto do Porto Maravilha são possíveis e podem mudar para sempre a nossa realidade.

Se analisarmos o ranking das 100 mais inteligentes do Brasil, veremos que 80% das dez primeiras posições são ocupadas por capitais, que enfrentam quase exatamente os mesmos problemas de ocupação do solo, mobilidade, alagamentos, insegurança, segregação social. É lógico que alguma coisa não está funcionando como deveria, e precisa mudar. Para a consultoria Urban Systems, que levantou quais são as cidades mais conectadas do país, nós estamos no meio do caminho do processo de construir cidades verdadeiramente inovadoras e mais agradáveis de se viver. Na comparação com o próprio Brasil, estamos 50% atrasados nesse processo; em relação ao mundo, o quadro exige ainda mais atenção.
Do ponto de vista técnico e da engenharia, temos boas condições de desenvolver iniciativas que melhorem as nossas vidas, principalmente pelo suporte que essa série de dispositivos precisa para compartilhar seus dados: a internet. A partir da simples popularização das conexões sem fio em locais públicos, que já acontece em alguns locais, poderemos coletar informações que vão subsidiar ações de planejamento e desenvolvimento de políticas públicas para os gestores. Usar o big data, a cloud computing e a internet das coisas (IoT) para transformar a realidade e os espaços que usamos é ser verdadeiramente inteligente. Por isso precisamos agir, e é imprescindível que seja agora

 

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