Sobrevivência ou criatividade?

Meus amigos europeus dizem que os Brasileiros são muito criativos. Eu penso diferente. Acho que os Brasileiros têm um grande senso de sobrevivência, com uma criatividade impressionante que surge em momentos de crise, transformando ameaças em oportunidades.

O Brasil está passando pela pior crise das últimas décadas. Estamos lutando contra o aumento da taxa de inflação e do câmbio, aliados ao aumento de inadimplência e desemprego.

Para piorar temos uma grande crise política. A atual presidente e dois ex-presidentes estão sendo investigados por corrupção, ao lado de centenas de políticos e empresários. Estima-se que mais de 20.000 empresas e pessoas estejam envolvidas no maior escândalo de corrupção da história.

Nos últimos anos eu criei meu próprio índice de desemprego. Eu exporto a lista de contatos (conexões) que eu tenho na rede LinkedIn, aplico um filtro e consigo ver quantas pessoas estão desempregadas. No meu LinkedIn eu tenho apenas conexões com pessoas da área de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação) e com nível acima de gerência. Até 2013, o índice era de 5 a 7% de profissionais desempregados. Neste ano o índice de desemprego foi para 35%. São profissionais que foram demitidos ou que aproveitaram programas de incentivo à demissão voluntária para deixar suas empresas fazendo algum dinheiro na saída.

Várias empresas, multinacionais e nacionais, estão reduzindo custos com a “juniorização”, ou seja, demitem profissionais experientes e caros e contratam jovens mais baratos. Sabem que vão perder em qualidade, mas estão sendo espremidos por custos menores.

Então, a crise está colocando no mercado muitos profissionais de TIC experientes. Alguns com um bom dinheiro pela rescisão do seu contrato de trabalho. A maioria sabe que não vai conseguir se recolocar como alto executivo em outra grande empresa.

Entendendo este cenário não é de se espantar o número impressionante de empresas start-ups que começaram suas atividades este ano.

Nas últimas 2 semanas tive a oportunidade de me reunir com mais de 30 empresas start-ups com soluções fantásticas e altamente criativas. São empresas com profissionais experientes e de cabelos brancos que, além da solução, contam com planos com excelentes estratégias de Marketing e Vendas.

Alguns apresentam seus planos estratégicos já contando com entrada de investidores e expansão para o mercado internacional.

Uma das “start-ups” que eu conheci, iniciou atividades 2 anos atrás, e já está com escritórios em Miami, México, Inglaterra e Dubai. Os sócios, desta “start-up”, saíram de grandes empresas de TI, viraram empresários e hoje estão com um crescimento impressionante. A crise, definitivamente, foi bondosa com eles.

Para os investidores, estas empresas são excelentes opções de investimento, mesmo porque, o câmbio está favorável para eles – com poucos euros ou dólares eles conseguem comprar parte de empresas altamente promissoras, com um bom plano e com profissionais capacitados para executar o plano com disciplina.

E assim, no meio de uma grande crise econômica e política, o Brasil está se transformando em um grande celeiro de soluções tecnológicas.

Criatividade por sobrevivência, ou sobrevivência com criatividade?

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2 comentários

  1. Olá Dagoberto, acompanhei sua saída da Microsoft e crescimento na Advance, ensinando as empresas a se planejarem e pensarem melhor. Parabéns ! Realmente, a crise está péssima, ao mesmo tempo em que está sendo melhor percebida por uma grande maioria. Esperamos que isso traga mais maturidade política para os brasileiros habilitando-os para assumir o protagonismo de suas escolhas e de suas vidas. Abraço

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