Já muito se tem escrito sobre esta temática, no entanto estes aspetos assumem agora ainda maior relevância face à conhecida escassez de profissionais em Tecnologias de Informação. Escassez provocada pela falta de alunos a estudar TI e, por outro lado, aumento do uso de tecnologias em todos os setores de atividade.
O salário é incompatível com o nível de responsabilidade
Todos damos importância ao nível de responsabilidade que um profissional de TI tem quando algo de extrema importância para a organização deixa de funcionar. Nos intervalos dos problemas, o profissional de TI é, muitas das vezes, visto como um custo ou um mal necessário. Esta condição redutora coloca o profissional de TI numa posição onde o nível salarial tende a ser baixo face ao elevado grau de responsabilidade que muitas das vezes assume na gestão de sistemas vitais da organização e que, em caso de paragem ou anomalia, podem ditar elevados prejuízos e, em alguns casos, o fecho do negócio em questão (exemplo: Portal Ashley Madison onde um problema de segurança ditou fuga de informação).
Outra situação que provoca salários inferiores à responsabilidade é o excesso de outsourcing em alguns países, como é o caso de Portugal. As empresas recorrem ao outsourcing nas TI, muitas das vezes, porque as TI são acessórias (como o serviço de limpezas ). O outsourcing fica tipicamente com uma margem entre os 20% e os 30%, baixando assim o pacote salarial que o profissional de TI tem acesso. O efeito colateral acontece quando os países mais a norte (exemplo: Reino Unido), que recorrem menos ao outsourcing, vêm recrutar a países como Portugal e as propostas salariais são irrecusáveis.
Recomendação: Os salários dos profissionais de TI precisam de subir significativamente, em total alinhamento com o nível de responsabilidade atribuído.
As tecnologias são vistas como uma área de suporte
Ainda é pouco prestigiante, na maior parte das organizações, trabalhar na Direção de Sistemas de Informação, isto é, comparativamente com outras áreas mais clássicas. Trata-se de uma situação absurda e que é alimentada, em muitos dos casos, pela própria Administração que não tem formação em Tecnologia e/ou Inovação. Ex.: casos de Direções de Sistemas de Informação a reportarem ao Diretor Financeiro são um verdadeiro “escândalo” que ainda ocorre em pleno 2015. A ausência de um verdadeiro CIO, CTO e, em alguns casos, CIO (Chief Innovation Officer), contribuem para esta situação. Questão provocatória: quantas administrações sabem a diferença entre um CIO e um CTO?
Os profissionais de TI confrontados com outras organizações onde são tratados como “rock stars” (exemplo: nas startups) apresentam uma ótima alternativa para profissionais de TI que valorizam mais a forma como são vistos, o seu estatuto, do que propriamente o dinheiro (fator de motivação secundário).
Recomendação: deve existir um CIO com assento na administração e deve haver IT Marketing interno/externo para promover o trabalho efetuado pelos profissionais de TI.
A cultura da organização está desajustada com a cultura das tecnologias de informação
Em linha com os dois pontos anteriores, reforço dizendo que as startups e todos os temas relacionados com o empreendedorismo estão a criar uma cultura que se cruza com as tecnologias de informação. O atual profissional de TI necessita de sentir que está a criar algo que vai mudar o mundo e não apenas o sistema que suporta os processos da grande organização para onde está a trabalhar.
Recomendações: É fundamental que o profissional de TI “sinta” os mesmos privilégios que uma profissional sente quando está numa startup: liberdade de expressão, poder de decisão ou para participar ativamente no mesmo, ambiente menos formal a começar pelo dress code ou ausência dele, e, acima de tudo, sentir que é uma pessoa importante porque está a contribuir para resolver um problema global.
Checklist para a estratégia de RH funcionar:
- Melhorar o salário dos profissionais de TI.
- A Direção de Sistemas de Informação deve ser uma Direção de Negócio e não de Suporte e reportar diretamente à Administração.
- Criar um ambiente de startup na Direção de Sistemas de Informação.
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