Big Data para Todos?

“Big Data”. Não existirão muitos outros nomes na indústria de TIC que representem tão mal uma área da informática. Existe, no entanto, uma razão para tal denominação, esta disciplina foi desenvolvida por empresas como a Yahoo ou Google, que como é sobejamente conhecido lidam com volumes massivos de dados. Mas é hoje um facto reconhecido que para retirar valor da informação não é obrigatório processar grandes volumes de dados. Cada vez mais a qualidade do processo e, acima de tudo, dos resultados se sobrepõe à quantidade inicial de dados para análise e correlação.

Mas será que a Big Data ainda é limitada à Google, GE, Walmart e outros que tais, que mantêm o exclusivo da produção de conhecimento para criar valor (e mais receita) para os seus negócios? Se Big pode ser mais ou menos simples para quem tem “Big” orçamento e “Big” número de recursos, será também assim para as entidades limitadas em termos de dimensão, orçamento ou competências de TIC? Como é que a Big Data pode apoiar os negócios das empresas Pequenas e Médias e torná-las mais eficientes e competitivas? Como poderá passar a abranger cada vez mais negócios e organizações?

 

PMEs e Big Data?

Qualquer organização deverá ter a possibilidade de aproveitar o potencial dos dados, sejam os gerados pela própria empresa, obtidos externamente ou o cruzamento de ambos. Os princípios subjacentes são iguais para todos. Qualquer que seja a organização, pretende-se criar conhecimento, tendo como ponto de partida dados mais ou menos em bruto que, quando “arrumados e baralhados” considerando uma determinada perspetiva ou lógica resultam em informação que pode ser utilizada para a tomada de decisões e definições de estratégias.

Uma pequena mercearia de bairro pode aproveitar os dados que vai acumulando ao longo do tempo, relativos aos comportamentos de consumo da D. Maria ou do Sr. João, para ajustar a oferta e assim reter mais e melhores clientes. Uma cadeia de cabeleireiros presente em centros comerciais pode criar promoções tendo como ponto de partida os dados gerados a partir das vendas semanais ou visitantes diários. Os exemplos são infindáveis, tal como o potencial e o valor para as organizações.

Imaginemos esta situação. Uma qualquer oficina de mecânica e bate-chapas em Viseu pretende investir e alargar a sua atividade e potencial de mercado. Para tal quer oferecer serviços especializados para viaturas da marca Ford, mas tem dúvidas se na sua área de cobertura geográfica existirão potenciais clientes novos. Ou gostaria de entender melhor que tipo de serviços são normalmente vendidos na sua oficina a viaturas de caraterísticas semelhantes. Esta organização gostaria de utilizar tecnologias de Big Data para trabalhar os seus dados e aproveitar a informação existente sobre vendas da Ford na sua região. Por muito interessante e necessária que seja, este tipo de análise está fora do alcance desta empresa, tanto em termos de meios como de competências.

 

Big Data as-a-Service

É aqui que o conceito de “as-a-Service” pode revolucionar a forma como mais organizações podem beneficiar da Big Data. Sobretudo se pensarmos na possibilidade da prestação deste tipo de serviços através da Cloud pública. Tão simples como carregar os dados para uma qualquer Cloud (ou movê-los entre Clouds ou dentro de uma única Cloud) e esperar umas horas ou dias por uma resposta, pelo resultado da aplicação da análise e correlação dos dados disponibilizados por essa organização. Algo simples de entender e de utilizar, tendo provavelmente como ponto de partida um breve contacto com um Data Scientist que poderá ajudar, sugerir e aconselhar.

O serviço em si já nem sequer é novidade, já existe de alguma forma em alguns mercados ocidentais mais evoluídos. Mas sendo algo ainda relativamente novo e incipiente necessita de evoluir sobretudo em relação ao processo de interação entre utilizadores e fornecedores de serviços, que deverá ser tão simples e intuitivo como utilizar as funções básicas de uma folha de cálculo. Deverá também ter um modelo de consumo ou licenciamento adequado às necessidades do mercado-alvo. No limite, com a possibilidade dos dados em bruto de cada cliente serem (após um processo de anonimização) disponibilizados/vendidos a outros clientes. Imaginem que interessante poderia ser: um cliente beneficia de um serviço de Big Data de forma gratuita quando disponibilizar os seus dados a outros.

Cada vez mais ouvimos falar sobre a capacidade de iniciativa dos empreendedores nacionais e do potencial existente. Esta poderá ser uma excelente oportunidade para criar este tipo de serviços em Portugal. Para suportar as muitas milhares de PMEs, que poderiam beneficiar da Big Data e gerar massa crítica suficiente para criar um ciclo de inovação comparável ao que se vê em economias e mercados de maior dimensão. Fica a ideia. Não para ser falada em “Big” eventos ou por “Big” políticos, simplesmente para ser avaliada por quem queira arriscar e neste caso nem sequer é um “Big” risco.

 

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