Estratégia de TI: Inovar com Design Thinking

Dois dos desafios que os CIO enfrentam, giram em torno da necessidade de criar um foco para os utilizadores nas suas organizações de Tecnologia da Informação (TI) e em criar produtos e serviços que sejam adotados por utilizadores e clientes. Ambos os desafios são críticos para um papel influente do CIO na transformação digital empresarial.

O Design Thinking é uma ferramenta poderosa na geração de procura de produtos e serviços e deve fazer parte do kit de ferramentas de qualquer CIO que queira ter um papel preponderante na transformação da sua empresa. A transformação digital acarreta uma série de novos desafios e oportunidades para os CIO à medida que avançam na criação de soluções, produtos e serviços mais complexos, dinâmicos e centrados nas pessoas. Os CIO sabem que têm de inovar com novos produtos e serviços, embora muitos tenham lançado novas aplicações e produtos apenas para descobrir que a sua receção foi tépida e a sua utilização limitada, apesar do aparente valor empresarial que oferecem.

Além disso, os CIO enfrentam cada vez mais situações onde têm a tarefa de servir uma unidade comercial ou um segmento de clientes alvo onde as necessidades não são claras. Para serem bem-sucedidos nessas situações, precisam de adotar novas formas de identificar e resolver problemas e oportunidades de negócio.

Um estudo recente da IDC descreve uma dessas novas abordagens: Lean startups (ver Desenvolvimento de Aplicações: O Que As Organizações De Tecnologia da Informação Podem Aprender Com as Lean Startups, IDC #254050, Janeiro 2015). Este estudo foca-se no design thinking, uma abordagem de resolução de problemas centrada nas pessoas, empenha-se no equilíbrio entre a exequibilidade, viabilidade e a vantagem da criação de produtos e serviços que clientes e utilizadores irão adotar e usar, criando uma procura. As iniciativas de TI focam-se tipicamente na exequibilidade tecnológica e na viabilidade comercial e económica mas, por vezes, pecam na desejabilidade. Com a concorrência de todos os lados, criar produtos e serviços apelativos que são adotados por clientes internos e externos tornou-se na principal prioridade dos CIO.

 

Primeiro, o Problema

As iniciativas de TI muitas vezes começam e são enquadradas em torno de um pedido de uma unidade empresarial ou problema comercial (os projetos de infraestrutura são uma exceção) e podem utilizar abordagens tradicionais para definir os requisitos para uma solução, construindo uma solução ou avaliando e adquirindo uma, implementando-a de seguida. Note-se que, mesmo nos projetos de TI tradicionais, as práticas de Design Thinking podem e devem ser usadas para garantir a adequabilidade dos produtos e serviços.

 

Primeiro, a Ideia

Em alguns casos, as organizações de TI têm uma ideia ou descobrem uma tecnologia promissora, mas não têm uma ideia clara sobre se esta resolve uma necessidade comercial e se cria valor. As abordagens das lean starups começam com uma ideia ou solução e depois procuram um público-alvo com quem testar e refinar essa solução – ou abandoná-la, caso esta se revele não ser útil (ver Application Development: What IT Organizations Can Learn from Lean Start-Ups, IDC #254050, Janeiro 2015).

 

Primeiro, as Pessoas

Noutros casos ainda, as iniciativas são enquadradas em torno de um grupo, público ou indivíduo alvo, baseadas numa necessidade amplamente definida. Incluem-se exemplos de melhoria de desempenho de um centro de apoio ao cliente, a criação de um produto para um segmento de clientes novo ou desconhecido, e perceber como melhor servir uma unidade comercial ou função essencial. O Design Thinking é uma metodologia que pode ser eficaz nessas situações e é o objeto deste estudo.

Note-se que todas as abordagens são válidas e importantes, mas cada uma é eficaz na resolução de diferentes tipos de problemas – o papel do CIO é selecionar a abordagem que melhor se encaixa numa determinada iniciativa. Tim Brown, o CEO da IDEO e criador do conceito de design thinking, define-o como “uma disciplina que usa a sensibilidade e métodos do designer para corresponder às necessidades das pessoas com aquilo que é tecnologicamente exequível e o que uma estratégia comercial viável pode converter em valor para o cliente e em oportunidade de mercado” (ver Tim Brown, Change by Design, Harpe Business, 2009). O Design Thinking é um método para inovar formas de melhorar a situação ou estado atual de um público-alvo, baseado num entendimento profundo e empatia com esse público. Utiliza equipas interdisciplinares, seguindo um processo que:

  • Cria um conhecimento profundo do público, grupo ou indivíduos alvo;
  • Usa esse conhecimento para enquadrar e definir um ou mais desafios a serem abordados;
  • Concebe potenciais conceitos e resultados;
  • Cria protótipos para comunicar e testar esses conceitos;
  • Testa os conceitos para os refinar antes de avançar com a implementação.

O Design Thinking ajuda os CIO a enquadrar (ou reenquadrar) problemas e respetivas soluções na perspetiva do cliente, no contexto de trabalho e da vida pessoal e atividades do cliente, tendo em conta o significado que os clientes atribuem a essas atividades, desejos e necessidades. Ajuda a perceber a razão pela qual o cliente pode querer ou precisar de um produto ou serviço, não apenas aos atributos que os produtos e serviços devem ter.

Os princípios do Design Thinking incluem:

  • O uso da observação e relacionamento com as pessoas e grupos observados no seu contexto diário de trabalho e vida pessoal – na compra de um carro, ao serem admitidos no hospital, ao lidar com chamadas dos serviços de apoio ao cliente, ao trabalhar com projetos profissionais complexos, e assim por diante – para criar empatia com as suas necessidades, ideias, comportamentos e valores;
  • O uso de brainstorming e do pensamento divergente para gerar o maior número possível de soluções, de pensamentos convergentes para filtrar a escolha das soluções a serem implementadas;
  • Protótipos e narrativas abrangentes para explicar os conceitos de soluções e testá-las com a população alvo;
  • Equipas interdisciplinares que permitem aos seus elementos sair do seu papel formal e contribuir de todas as formas ao seu alcance;
  • Equilíbrio entre fiabilidade e validade para avançar do pensamento tradicionalista para um pensamento de descoberta e inovação.
  • Empenho na procura do equilíbrio certo entre desejabilidade, exequibilidade e viabilidade;
  • O uso de empresas e outras restrições para incitar e não reprimir a inovação.

O Design Thinking não se relaciona apenas com a aparência e experiência do produto – é também sobre a gestão da inovação, informada por um conhecimento profundo e empatia com o público-alvo para criar produtos, serviços e experiências que os clientes desejam e precisam. Note-se que esses desejos e necessidades são muitas vezes latentes e os clientes não conseguem articulá-los. O papel do design thinker é extrair esses desejos e necessidades latentes.

O Design Thinking procura o equilíbrio entre a desejabilidade, viabilidade e exequibilidade. As iniciativas de TI focam-se tipicamente na exequibilidade tecnológica, e na viabilidade comercial e económica, mas por vezes pecam na “desejabilidade”. Na era da consumerização das TI e de um número crescente de ofertas “como serviço” de fornecedores que competem com os serviços de TI, a criação de produtos e serviços apelativos têm de se tornar numa prioridade para os CIO.

 

Quando e porquê usar o Design Thinking

Destacámos anteriormente três abordagens de enquadramento de projetos de TI: primeiro o problema, a ideia; e as pessoas. O último pode ser alargado para incluir “situações”, uma vez que o Design Thinking é muitas vezes usado no contexto de fornecimento de um serviço, ajudando ou otimizando um público-alvo numa determinada situação.

As razões pelas quais os CIO devem considerar acrescentar o Design Thinking ao seu kit de ferramentas incluem:

  • O crescimento rápido da Internet of Things (IoT) abre caminho para inúmeras novas oportunidades de negócio, mas também acarreta os desafios de misturar as interações digitais e físicas, as necessidades e comportamentos do público-alvo, as questões relativas à privacidade e outras considerações, em modos novos e diferentes;
  • As organizações de TI estão a transitar do fornecimento de soluções pontuais, aplicações discretas, produtos e serviços, para ajudar as suas empresas a criarem ecossistemas empresariais complexos que, muitas vezes, se estendem para fora da empresa;
  • Utilizadores e clientes valorizam cada vez mais a experiência e o significado, mais do que a funcionalidade e prestação do produto e serviço, e assim por diante;
  • À medida que as iniciativas de TI se deslocam de sistemas de registo para sistemas de relacionamento – especialmente as iniciativas que são por natureza interativas – torna-se mais difícil a criação de aplicações e produtos apelativos para serem usados;
  • No cerne da lista acima mencionada está o facto de que, nas novas iniciativas de TI, compreender as necessidades e motivações do público-alvo, utilizadores e clientes será um pivô para o êxito. O Design Thinking foca-se nos motivos pelos quais as pessoas querem e usam um produto ou serviço (motivação) e o que esperam obter dessa utilização (recompensa).

 

O Design Thinking tem diversas aplicações potenciais para os CIO: melhorar o entendimento e utilização de aplicações, produtos ou serviços; otimizar o desempenho de papéis, equipas ou departamentos; perceber as iniciativas de novos produtos para públicos-alvo menos conhecidos (novos mercados); e até mesmo no resgate de projetos de TI em dificuldades.

Em suma, é uma ferramenta muito flexível.

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