Apesar de ainda atrás da AWS no segmento de serviços corporativos em nuvem, a plataforma de nuvem da Microsoft desponta uma das mais proeminentes do mercado
O negócio de nuvem da Microsoft registrou crescimento constante em quase todos os trimestres de seu último ano fiscal, encerrado em 30 de junho deste ano. A receita da companhia com o serviço de infraestrutura em nuvem Azure mais do que dobrou no último trimestre do exercício fiscal de 2016, compensando, inclusive, a queda nas vendas do sistema operacional Windows e de seu negócio de telefonia móvel. O negócio de nuvem inteligente, que inclui o Azure, teve aumento de 6,6%, para US$ 6,71 bilhões.
Mesmo assim, a Microsoft ainda continua em um distante segundo lugar em relação a Amazon.com no mercado de serviços corporativos em nuvem, oferecidos pela divisão Amazon Web Services (AWS). No entanto, os últimos resultados trimestrais sugerem que a gigante do software está efetivamente conseguindo fazer uma transição bem-sucedida do modelo baseado na venda de licenças de software (on premises) para a oferta de software e infraestrutura como serviço por meio da nuvem.
No mercado de aplicativos de produtividade SaaS, a Microsoft lidera com o Office 365. Nos segmentos de infraestrutura e plataforma como serviço (IaaS e PaaS), o Azure já desponta uma das mais proeminentes plataformas de nuvem do mercado e já é considerada a principal rival da AWS.
Para falar sobre o mercado de nuvem e o futuro do Azure, o editor sênior do site Network World, Brandon Butler, entrevistou com exclusividade o vice-presidente corporativo da Microsoft Azure, Jason Zander. Além de supervisionar milhares de engenheiros que desenvolvem a plataforma IaaS e PaaS da Microsoft, ele também é o responsável pelos data centers globais da empresa e pela gestão do grupo de suporte ao cliente. A entrevista foi condensada e editada. Veja, a seguir, os principais trechos.
NW — A Amazon criou o mercado infraestrutura pública de nuvem em meados dos anos 2000 e durante muito tempo foi a única fornecedora desse serviço. Até hoje, a maioria dos analistas aponta a AWS como a líder em IaaS, em termos de recursos e escala, muito à frente da Microsoft, Google e IBM. Você avalia que o fato de ela ter entrado antes nesse mercado complicou a capacidade da Microsoft de competir na nuvem pública?
Zander — O que eu diria é que temos sido um player corporativo basicamente há 20 anos. Somos uma empresa que historicamente tem estado muito envolvida no data center e no software utilizado para gerir data centers. Também somos uma companhia que oferece tecnologia em vários níveis. Por exemplo, não temos apenas os componentes de infraestrutura, mas também somos líder na oferta de plataforma como serviço [PaaS], além de na camada SaaS, com o Office 365 e Dynamics 365. Eu diria que nossa força e a natureza abrangente das soluções que estamos oferecendo são superimportantes para nós e tem repercutido muito bem entre nossos clientes.
NW — Você pode fornecer informações sobre o tamanho do negócio IaaS do Azure? A Microsoft não quebra as receitas de nuvem inteligente, mas acredito que também inclui software on-premises. Por que, a empresa não divulga a receita com nuvem pública IaaS?
NW — Como você classificaria as cargas de trabalho mais comuns que estão hospedadas no Azure atualmente? A maioria ainda é teste e desenvolvimento?
Zander — Eu diria que nesse espaço de nuvem pública em geral, a jornada de muitos começa com uma camada SaaS, usando o Office 365. Então, quando a empresa entra no Azure, é muito comum começar com os sites que ela está tentando tornar públicos para operações B2C. DevTest é certamente outra grande aplicação. Há também um monte de trabalho em torno de ambientes híbridos, mesmo com as empresas começando com coisas simples como backup, recuperação de desastres, etc. Tudo isso faz sentido para muitas empresas.
O que começamos a notar em muitos mercados é que as empresas estão olhando para todas as suas cargas de trabalho de missão crítica. Esses tipos de aplicativos corporativos grandes também estão começando a se mover para a nuvem.
NW — A nuvem híbrida tem sido outro grande foco da Microsoft. Qual é a sua importância estratégica?
Zander — Avaliamos um cenário de nuvem híbrida em um futuro previsível. Claramente, muitas empresas vão migrar para a nuvem pública; nós definitivamente estamos visualizando isso. Ao mesmo tempo, há situações em que as empresas só precisam ser capazes de atender o cliente. Agora, imagine um chão de fábrica: se alguém cortar o cabo de fibra a nuvem fará a empresa perder US$ 15 mil num segundo, com a linha de produção parada. Isso não pode ocorrer.
Nuvem híbrida, para nós, é a primeira solução que as empresas vão precisar ter. Então nós investimos nisso desde o primeiro dia. O melhor exemplo disso é o nosso trabalho com o Azure Stack, que tem a capacidade de oferecer um ambiente de nuvem consistente nas instalações do cliente e a nuvem pública, e criar a melhor combinação possível dos dois mundos. Fizemos muitos investimentos de P&D para ter a certeza de que o mundo híbrido é algo que realmente pode se materializar e gerar valor.
NW — Recentemente foi anunciado que o Azure Stack, a plataforma de nuvem híbrida da Microsoft, vai ser adiado. Quando ele estará disponível?
Zander — Nós temos relações com três parceiros próximos, HPE, Dell e Lenovo, e estamos trabalhando com eles para possibilitar a execução da plataforma em seus servidores. Basicamente todos estão trabalhando em um appliance convergente, que irá incluir o hardware além de nosso software. O que estamos procurando fazer é descobrir quais são as coisas que fazem as implementações de nuvem privada falharem. Se as pessoas já tentaram usar outras soluções de software ou construir suas próprias, porque elas falharam?
Achamos que há dois elementos-chave para isso: um é o software. Podemos tentar se certificar de que a empresa tem um software que pode realmente proporcionar um padrão de nuvem, não só a automação de máquina virtual, mas um padrão de nuvem real com contêineres de virtualização e PaaS, e todo o restante que se espera de uma nuvem. A outra parte é o hardware, certificando-se que ele pode lidar com os novos padrões de nuvem. Colocamos essas duas coisas juntas e é isso que representa o Azure Stack. Temos também o projeto Olympus e alguns trabalhos que fizemos com o Open Compute Project. Eles também são parte dessa mesma estratégia para nos certificarmos que esse tipo de solução convergente de hardware/software que estamos fazendo é algo que podemos tanto compartilhar com a indústria como também oferecer em escala.
NW — Quando o Azure Stack será lançado? Ele está atrasado em relação ao prazo que vocês inicialmente tinham programado para ele chegar ao mercado?
Zander — Em setembro disponibilizamos o Azure Stack Technical Preview 2. A versão Technical Preview 1 foi lançada em janeiro deste ano. A versão Technical Preview 2 traz novos serviços, incluindo o Azure Queue e o Azure Key Vault, além serviços adicionais, como o App Service. Agora o hardware está sendo testado e tem um monte de testadores que estão nos dando o feedback. Basicamente, nosso objetivo é continuar nesse caminho com o Technical Preview 2 para nos certificarmos de que vamos atender a todas as exigências. Estamos prevendo lançá-lo neste próximo ano calendário.
NW — Qual é a estratégia da Microsoft para contêiner? Sei que existem contêineres Windows, mas o Azure também tem abraçado o Docker e Kubernetes (ferramentas de automatização, distribuição de carga, monitoramento e orquestração entre contêineres). A Microsoft parece estar um pouco em desvantagem porque a tecnologia de contêiner é centrada principalmente em Linux?
Zander — Na verdade, de uma perspectiva da ciência da computação, os contêineres já existem há duas décadas. Os contêineres foram um mecanismo por um bom tempo e começamos a suportá-los na plataforma Azure juntamente com nosso mecanismo de deep learning há mais de dois anos.
Nós já fizemos um grande investimento em um projeto com o Docker para ajudar a tornar isso ainda mais fácil e somos um dos maiores contribuidores do lado open source do Docker. Internamente, estamos usando tecnologia de contêiner para produtos da Microsoft. O que fizemos mais recentemente é que a tecnologia fez parte do sistema operacional Windows. Isso é algo que estamos trazendo para o mercado com Windows Server 2016.
NW — Você mencionou alguns serviços de tecnologia em um nível superior como aprendizagem de máquina e inteligência artificial. Fala-se também da tecnologia serveless de computação. O que você diria para os clientes que aguardam o desenrolar dessas novas tecnologias? Você vê muita demanda neste momento?
Zander — Sim, absolutamente. Pense num contexto mais amplo: acreditamos que daqui para frente cada empresa será uma empresa de software, mesmo se ela atuar em um ambiente mais tradicional como, por exemplo, a manufatura. Mesmo que não seja uma empresa de software tradicional, seguirá nessa linha porque é a melhor maneira de tirar o máximo proveito do seu negócio e otimizá-lo, para reduzir custos e abrir novos mercados. Basicamente, é aproveitar dados e software para ajudar na inovação.
Vemos muito esse tipo de trabalho. A coisa que estamos tentando fazer em um nível superior é democratizar essa tecnologia e torná-la mais acessível não só para os desenvolvedores que criam software, mas também para aqueles clientes que querem obter insights. Oferecemos formas de alavancar o mesmo tipo de tecnologia, mas não precisa ser um cientista de dados ou de software para ser capaz de fazê-lo. Se você pensar sobre isso nesses termos, então espero absolutamente uma ampla adoção. Isso também é parte de outras coisas que vemos, como bots como serviço e assistentes inteligentes como Cortana. Todas essas coisas são elementos que vamos experimentar em nossas vidas diárias.
NW — Muitos códigos subjacentes a essas novas tecnologias são aberto. Código-fonte aberto é algo que tem sido uma prioridade para a Microsoft nos últimos anos. Isso é uma diretriz de Satya Nadella?
Zander — Trabalhei muito tempo com ferramentas de desenvolvimento e a primeira licença de código aberto que fiz para a Microsoft foi há dez anos. Desenvolvi o código-fonte aberto com o Visual Studio e fizemos uma licença open source para o IronPython, que é o Python sobre .Net. Portanto, estive envolvido com código-fonte aberto por um longo tempo. O que eu coloquei é que realmente queremos ter a certeza de que vamos encontrar nossos clientes onde eles estão e dar-lhes soluções premium. Isso significa soluções premium para Linux como para Windows.
Do lado do código aberto, algumas das coisas que fizemos foi se certificar que nossas plataformas são um ótimo lugar para executar o software open source. Outra coisa é que tentamos levar nossa tecnologia e nos envolvermos mais profundamente com a comunidade de código aberto. Abrimos o framework do .Net, por exemplo, e agora recentemente tivemos a adesão do Google à Fundação .Net. Eu diria que definitivamente estamos fazendo ainda mais para envolver a comunidade de código aberto.
Fonte: Computerworld Brasil