Mudança e Transformação no mercado de trabalho

É uma realidade aceite que o modo como desempenhamos o nosso trabalho está progressivamente a moldar-se às novas tecnologias, como o Big Data, Internet of Things e Web Devices, bem como a determinar a estrutura e a forma como comunicamos e trabalhamos nas organizações.

Paralelamente, a globalização transfere a “batalha” da atração e retenção de talentos para um palco internacional e potencia novas formas de colaboração em que a mobilidade, do ponto de vista do local onde trabalhamos e do modo como nos conectamos nas organizações, é fator decisivo na escolha das empresas onde queremos trabalhar. Hoje em dia, para a maioria de nós, o trabalho já é algo que levamos connosco para todo o lado e, em breve, até a forma como nos deslocaremos para lá irá mudar.

Por outro lado, as gerações nativas digitais, moldadas pelas novas tecnologias e pelos modelos sociais delas emergentes, aspiram trabalhar em organizações cujos processos de trabalho se baseiem nestas mesmas tecnologias e querem sentir que contribuem e participam no seu desenvolvimento. Estes novos profissionais querem ter voz ativa, participar na tomada de decisão e sentir que contribuem para um propósito organizacional que também é seu. No fundo, querem colaborar com uma empresa onde sintam que fazem parte do seu cérebro e não apenas “ter um trabalho”.

Ao mesmo tempo, a progressiva introdução da inteligência artificial nas organizações vai alterar drasticamente o mercado de trabalho, principalmente ao nível das competências profissionais mais procuradas e no modo como desenhamos os processos organizacionais, moldando progressivamente a forma como trabalhamos para modelos mais cooperativos.

Se, num passado recente, uma empresa conseguia operar num mesmo negócio dezenas de anos, hoje em dia já tem que, quando necessário, diversificar, ou mesmo mudar, de setor de atividade. Até há pouco tempo atrás, estudávamos para poder ter uma profissão para a vida, hoje em dia temos que estar preparados para aprender, a todo o momento, novas competências essenciais para a nossa manutenção no mercado de trabalho.

Num futuro próximo muitos dos postos de trabalho que hoje existem terão desaparecido e haverá novas funções que ainda não imaginamos. Deste modo, as organizações e os profissionais do futuro têm que estar sempre abertos à mudança e transformação.

São grandes os desafios que já hoje em dia se colocam nas nossas organizações, do ponto de vista dos recursos humanos.  Desafios que se intensificarão no futuro. Como atrair e reter as pessoas certas para os desafios/oportunidades atuais e ao mesmo tempo para os desafios/oportunidades do futuro? A nossa força de trabalho está ou pode ser preparada para o nosso futuro? Em que competências devemos apostar? A nossa organização e os nossos líderes estão preparados para a futura força de trabalho e novos mercados que vão surgir?

É neste ambiente de incerteza que as competências comportamentais ganham uma importância estratégica no desenvolvimento dos colaboradores de uma organização. Competências como a resolução de problemas, o pensamento criativo, trabalho de equipa, inteligência emocional, tomada de decisão, orientação para o serviço, negociação, flexibilidade cognitiva e liderança vão a ser essenciais para todas as profissões.

Deste modo, o foco do investimento nos processos de desenvolvimento dos colaboradores passa a integrar e a ter em conta as suas necessidades pessoais e profissionais. Cada colaborador tem um ponto de partida específico em cada uma das competências acima mencionadas e os programas de desenvolvimento vão ser desenhados, tendo em conta esta individualidade.

O desenvolvimento dos colaboradores nas nossas organizações também vai passar por saber potenciar a sua atenção ao futuro e às mudanças que se preveem. O conhecimento das tecnologias atuais, das que estão para ser lançadas, de conceitos de física, do modo como o nosso cérebro funciona, de psicologia e outras matérias até agora só necessárias para algumas profissões vão passar a fazer parte do dia a dia de cada individuo e essenciais para a literacia de todos.
O aumento da consciência nos nossos colaboradores aumenta o potencial de resolução assertiva dos problemas e a flexibilidade para a mudança, quando esta é essencial.

Assim, a forma como definimos e disponibilizamos as ferramentas de desenvolvimento vão progressivamente alterar-se e democratizar-se, garantindo o acesso a meios que permitam a cada colaborador desenvolver-se através de programas desenhados de acordo com as suas necessidades atuais e futuras, como pessoa e como profissional. Paralelamente, cada colaborador terá que estabelecer com cada organização um compromisso de desenvolvimento, passando este a ser uma parte integrante da sua função.

É também neste ambiente de incerteza que a liderança nas empresas ganha um papel essencial e muito especial. A liderança organizacional está progressivamente a evoluir para ter como função principal proporcionar o apoio necessário, que garanta aos colaboradores constante evolução, possibilitando que se tornem uma melhor versão de si próprios e que desenvolvam as competências necessárias para enfrentar os desafios profissionais atuais e futuros, em qualquer organização, ganhando uma dimensão clara no âmbito da responsabilidade social.
Mais que gerir e reter talento, o foco dos líderes será o de potenciar talento.

Estas organizações vão proporcionar um ambiente físico e psicologicamente seguro, onde os colaboradores sentem que podem confiar em quem está ao seu lado, que podem ser criativos, inovadores, desafiar o status quo e participar na melhoria contínua dos processos organizacionais.

Estas empresas tenderão a ter estruturas flat, funções baseadas menos no que precisamos de fazer e mais nos compromissos que temos uns com os outros. O local de trabalho perderá progressivamente a sua importância, o ambiente será de confiança e os modelos de organizacionais serão estruturados tendo por base a cooperação e o desenvolvimento de quem os realiza.

Será nestas empresas que os profissionais do futuro quererão trabalhar e não apenas aquelas para onde precisam de ir trabalhar.

Como Richard Branson refere “Train people well enough so they can leave. Treat them well enough so they don’t want to”. 

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