Na semana passada, tive o privilégio de participar numa conversa que a dado momento tocou no uso da Realidade Aumentada não estar massificado. Ou melhor, no facto de estar cada vez mais na agenda das empresas, mas ainda muito distante das nossas casas.
Os meus interlocutores defenderam que só teremos mudanças quando surgirem óculos de Realidade Aumentada a preço acessível. Afirmaram que tanto tablets como smartphones não providenciam uma grande experiência de realidade aumentada, porque estão circunscritos ao ecrã e que isso limita a imersividade da experiência. Ou seja, quando finalmente pudermos caminhar pela rua sem necessidade de segurarmos um ecrã, será o momento em que a Realidade Aumentada se torna mais usada por todos nós.
Muito embora acredite no poder transformador que smartglasses como os Microsoft Hololens ou os Magic Leap têm, não imagino que essa seja a peça fundamental para vermos mais experiências e utilizadores de realidade aumentada. Acho mesmo que essa revolução dos smartglasses vai acontecer em paralelo e dependerá muito da ação das operadoras de telecomunicações.
Neste momento, para experimentar um conteúdo de Realidade Aumentada, preciso de instalar a aplicação móvel, executá-la e só depois aceder à lista de experiências, onde poderei ler os descritivos e selecionar a que pretendo visualizar. E depois fazê-lo.
Faz-me lembrar um pouco o início da web, há uns 20 anos, quando escrevíamos o url completo para aceder ao site — a sensação de sucesso era imensa, mas escrever http://www.sitequequeriamosvisitar/haviasempreumacategoria/nomedapaginaqueporvezeserahome.html provocava alguns enganos e facilmente redundava numa sensação de frustração. Ora, o aumento da interação entre estes conteúdos, o linking entre sites (que permitiu a navegação) e finalmente o aparecimento de alguns diretórios (como o SAPO) facilitaram imenso a navegação e o conhecimento de conteúdos.
Mas a verdadeira revolução apareceu com os motores de busca. Primeiro o Altavista, depois o Yahoo e finalmente o Google aceleraram dramaticamente como acedíamos e selecionávamos os conteúdos na World Wide Web. Ora eu acredito que será exatamente isso que se irá passar com a Realidade Aumentada — de forma a que possamos utilizá-la mais, ela tem de providenciar soluções rápidas, que me possam ser úteis no contexto em que me encontro e que me permitam avaliar rapidamente se faz sentido usá-la para resolver uma necessidade ou não.
E este motor de busca de experiências de Realidade Aumentada funcionará através duma câmara — inicialmente dum smartphone ou tablet e posteriormente e com certeza, de smartglasses. Só com essa ferramenta, teremos a centralização de conteúdos aumentados, que por ora estão apenas acessíveis através de aplicações Android ou iOS de cada marca — o que faz todo o sentido para cenários B2B, mas não para uma utilização B2C.
Quando estes conteúdos de Realidade Aumentada estiverem disponíveis globalmente, seremos capazes de pesquisar os produtos que precisamos e de visualizá-los de seguida e em tempo real, naquele momento, como se de objetos físicos se tratassem. Ora isto representa uma mudança profunda na forma como acedemos à informação online e a utilizamos na nossa vida. Por exemplo, imagine que está a iniciar uma dieta pela primeira vez. Possivelmente faz uma pesquisa online ou consulta um nutricionista, recebe uma lista de alimentos e compra-os na mercearia – não será mais eficaz o seu telemóvel mostrar-lhe o seu frigorífico cheio de fruta e vegetais (ou o que precisa para a sua dieta :P)? Pode retirar os que desejar e quando tudo estiver pronto, bastará clicar no botão de encomenda e escolher a sua loja de e-commerce. Ou seja, ver para crer. A Modiface, que permite aos seus utilizadores experimentarem maquilhagem em Realidade Aumentada, foi adquirida recentemente pela L’Oreal e reportou uma conversão de 80% dos seus utilizadores em clientes registados. A Ray-Ban dá-nos acesso a um espelho aumentado que nos permite experimentar todos os modelos da marca. Ambas as soluções já estão acessíveis através da web.
O engagement aumentado leva as pessoas a abrandarem e a interagirem com as experiências das marcas, gastando verdadeiramente tempo a conhecer a informação que estas têm para passar. E um motor de busca de realidade aumentada permite a universidades, politécnicos, centros de investigação uma oportunidade tremenda para abordar a didática visual de uma forma totalmente inovadora, passando o seu conhecimento de forma mais rápida e efetiva. Permite a serviços noticiosos geo-referenciarem as notícias em tempo-real.
Um motor de busca permitirá ainda filtrar a procura de experiências de RA por proximidade, categoria, tema, amigos que já a experimentaram… O potencial é enorme, mas para isso precisamos de concluir algo primeiro: permitir um acesso total a experiências de Realidade Aumentada através da web. Esse é o principal desafio, que certamente engloba outros.
É um percurso que estamos a fazer, com empresas como a Mozilla, Amazon ou a Google a desbravarem o caminho. Mas daqui a 20 anos, provavelmente iremos olhar para trás e rir da simplicidade das nossas ideias – e de como estas pareciam tão revolucionárias na altura.
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