O que é a AR Cloud?

A Realidade Aumentada (RA) tem como pressuposto alterar a nossa perceção do espaço. Posso hoje simular novas cores e texturas para uma parede, aprender com hologramas a história daquele local, ligar-me remotamente a um par de óculos de realidade aumentada e orientar um técnico numa intervenção. E o mesmo espaço pode ser transformado centenas de vezes, de acordo com os meus objetivos.

Ao adicionar elementos digitais ao contexto e sobrepô-los ao cenário real, a Realidade Aumentada adiciona assim novos significados aos objetos e aos espaços. Para estes novos significados terem relevância, não basta que a experiência esteja bem integrada no espaço – precisa de ser visualizável por todos os utilizadores.

O Pokemon GO, por exemplo, foi criado com base no jogo Ingress da Niantic Studios, cuja georreferenciação foi realizada ao longo dos anos. Hoje, experiências com recurso a tecnologias como ARKit ou ARCore utilizam as câmaras para reconhecer e mapear a profundidade de campo antes de sobrepor o objeto sobre a realidade física – tudo é bastante mais rápido.

Muito embora esta técnica de reconhecimento do espaço represente a base duma série de novos serviços, estes também beneficiam diretamente de informação de coordenadas geográficas para reconhecer contextos e adicionar informação relevante, partilhável por todos os dispositivos.

Contudo, esta georreferenciação baseada em coordenadas GPS tem uma margem de erro demasiado grande para criar serviços de valor acrescentado (ex. sistemas de navegação, guias turísticos em holograma ou serviços de tradução instantânea de sinalização urbana). E o reconhecimento de objetos ou de imagens é útil em alguns casos e menos útil noutros.

Como garantir que uma experiência de realidade aumentada se encontra num lugar especifico e esteja disponível a todos os utilizadores interessados – inclusivamente, a vários utilizadores em simultâneo, numa lógica multiplayer?

Uma solução para isto foi avançada pelo Ori Inbar, Partner da Super Ventures – uma cópia persistente em 3D de todo o mundo (sim, mesmo) que pode servir infraestruturalmente todas as apps de Realidade Aumentada e, no futuro, todos os serviços de Realidade Aumentada disponíveis através da web.

Tecnologias como o ARCore e ARKit conseguem mapear um determinado espaço, através de deteção de superfícies (um método que chamamos de SLAM – Simultaneous Localization and Mapping). Mas para mapear áreas amplas (outdoor) ou para memorizar as interações com experiências em cada local precisamos de um poder computacional que ultrapassa o de um smartphone.

A AR Cloud pode assumir essa tarefa, poupando bateria e recursos de cada dispositivo para a execução das experiências de Realidade Aumentada. Conceptualmente, a AR Cloud consegue registar a localização dos dispositivos dinamicamente, para depois apresentar o mapeamento do espaço e dos objetos conhecidos dentro daquele local.

Claro, esse poder computacional só se encontra do lado de gigantes como o Google, Facebook ou Amazon – ou através de soluções de crowdsourcing como a proposta pela 6D.ai.

No limite, a AR Cloud permite dois temas essenciais para a massificação das experiências de Realidade Aumentada:

  1. Os utilizadores criarem e partilharem as suas próprias experiências, abrindo caminho para uma integração gradual das redes sociais na Realidade física;
  2. O nascimento dum motor de pesquisa de Realidade Aumentada, que me permite encontrar as experiências dentro de um tema ou na proximidade donde me encontro.

A AR Cloud vai dar aos developers de RA muito maior liberdade na criação das suas experiências.

Mas levanta igualmente uma série de questões: até onde estou disponível a perder a minha privacidade para aceder a estes serviços? Quem saberá onde estou, quem será o dono da AR Cloud? Como manter os dados e a plataforma agnóstica?

Entretanto e já após este artigo estar escrito, a Apple lançou o ARKit 2, onde entre outras coisas garantiu funcionalidades multi-player, um mapa persistente do mundo e deteção/reconhecimento de objetos 3D.

😊 Nasceu uma nuvem.

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