Ser Mãe ou ter uma carreira profissional: como escolher?

As boas notícias é que não tem de haver uma escolha.

Há cerca de 2 anos, quando regressei ao trabalho após o nascimento do meu filho mais novo, cruzei-me com um testemunho que considero interessante partilhar e que me ajudou a lidar com o sempre temido “regresso ao trabalho”.

Padmasree Warrior é a Chief Technology & Strategy Officer da Cisco e uma das mulheres mais influentes de Silicon Valley (tem mais de milhão e meio de followers no Twitter). Existem aqui dois factores muito interessantes, o facto de ser uma profissional com um cargo de extrema importância e numa indústria onde o contexto é ainda maioritariamente masculino (TIs), porque o é, falo por experiência própria.

Há obviamente mais casos como este (felizmente!), mas considero este testemunho interessante e inspirador porque fala da procura de equilíbrio entre a vida profissional e a pessoal, com o desafio adicional de, no caso dela, ter um filho.

 

A questão que se coloca: é possível ser mãe e aspirar a uma carreira de sucesso?

Sim, claro. Conciliar uma vida profissional activa e exigente com uma família, e tudo o que isso implica é um desafio diário, mas possível, e na maioria das vezes compensador.

A Padmasree diz algo, a meu ver, fundamental: “it’s not about balance, it’s about integration”. Ela refere e hoje percebo-a muito bem, que é muito comum uma profissional/mãe, no seu dia-a-dia, se fazer acompanhar por um sentimento de culpa, a sensação que há sempre algo que ficou para trás, o que não pode acontecer. Tem de existir uma integração (e não necessariamente equilíbrio) entre o trabalho, família, amigos e acima de tudo de nós mesmas. Apenas devemos assegurar que damos atenção a todas as vertentes da nossa vida.

É impossível estar “em todo o lado” e ser espectacular em tudo o que fazemos. Acima de tudo temos de estar bem com as decisões que tomamos e as escolhas que fazemos. Se o trabalho e a família são importantes para nós temos de aceitar que vamos perder momentos importantes em ambos mas conseguir lidar bem com isso.

Outra parte interessante deste testemunho é perceber como ela gere estes “mixed-feelings” com as pessoas que a rodeiam. Um exemplo que dá são as viagens (obviamente faz imensas) e como o filho ficava triste cada vez que se ausentava. Decidiu “envolver” o filho na organização das viagens e criar uma experiência engraçada (procurar informação sobre o país, cultura, moeda, língua…etc), fazendo-o sentir que era parte do momento podendo “vivê-lo” em conjunto.

Outra questão que se coloca é a ideia de que profissionais/mulheres/mães em cargos de chefia não podem ter vida (para além do trabalho). O que ela aconselha é que a ascensão na carreira tem de estar associada a resultados, a ser-se autêntico.

Vale a pena ouvir o podcast, é inspirador. Partilhando a minha opinião/experiência:

A realização profissional sempre foi importante para mim. Preciso desta vertente para me sentir completa. Mas também adoro a minha “carreira” de mãe. Sou mãe de dois filhos e sei por experiência própria que os primeiros tempos após o regresso é o desnorte completo, o sentimento de culpa está sempre lá (se estamos no trabalho é porque podíamos estar com o filho, se estamos com o filho é porque não estamos no trabalho e podemos perder algo importante ou falhar algum prazo).

Com o tempo percebi que temos mesmo de saber compensar e para mim equilíbrio não é de todo a melhor palavra. Nunca vamos conseguir gerir tudo por igual. O desafio é conseguir encontrar uma forma de tirar o melhor da cada situação, dos momentos que estamos a trabalhar e dos momentos que estamos com a família.

O apoio da estrutura familiar é muito importante e tem um papel determinante na carreira profissional da mulher/mãe, caso esta seja importante para a mesma. No meu caso felizmente tem.

Não podemos deixar de realizar as nossas ambições pessoais e profissionais porque receamos não conseguir vir a conciliá-las. Fica a reflexão esperando que ajude a quem está agora a iniciar uma carreira profissional.

Este é um tema complexo. Adorava ouvir outras opiniões e experiências.

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